Natal. Época de festas e confraternizações. Digo as duas enfatizando bem o significado. Festa sem homem não é festa, é confraternização. E o natal, especialmente esta natal, o MEU natal, não seria festa. Nem o Papai Noel vêem me visitar. Homem para mim só no catálogo da Renner.
Falta apenas três dias para o nascimento do menino Jesus e eu ainda estou correndo para cima e para baixo atrás do maldito desenhista. O lançamento do livro está previsto para o dia 24. Entretanto, a capa... se fosse de acordo com o artista que eu acabei de chamar de cretino ela sairia para a próxima copa do mundo.
O meu celular toca.
_Mel? Oi, é a Lúcia, deu certo?
Suspirei.
_Putz. Olha, eu conheço um lugar onde você pode encontrar alguém. Está todo mundo aqui desesperado! -completou Lúcia.
_Me passa o endereço.- anotei. _ é em uma loja de música? Aquela lá do centro? OK. Se eu correr consigo chegar lá. Beijo. Tchau.
Subi no meu carro e dirigi feito uma alienada. No meio do caminho outra ligação. Lúcia novamente.
_Amiga, será que tem como você chegar logo?
_Por quê? Ainda nem cheguei.
_O escritor está aqui. -Aquilo soou como os sinos da morte. Se o autor soubesse a quantas estava o seu livro eu não só perderia o meu emprego, como a editora perderia o resto dos seus clientes. Muitos só poblicavam com a gente porque Ele nos escolhia.
_Vai enrolando o homem.
_Ele já tomou 5 xícaras de café.
_Manda ele tirar um cochilo.
_Ele quer falar com o desenhista.
_Merda!
_E o Carlos? - Eu com tanto problema e ela me vem falar dele?
_Cheguei. Beijo, depois te ligo.
A loja poderia ser classificada como comum. Instrumentos normais de um lado, estranhos de outro. Um balconista todo tatuado. Uma maravilhoso cheiro de maconha. Alguns clientes metaleiros. Você sabe, só o básico.
Cheguei perto do balcão e perguntei:
_Vocês, por acaso, não tem ninguém que desenha? - o atendente olhou para mim. Cabelo repicado, óculos de sol na cabeça, saia, salto alto e bolsa Prada.
_Ô Alemão!!
Apareceu um homem negro. De 1,80 metros, com uma trança no cavanhaque, percing na sobrancelha e alargador na orelha.
_Leva ela para o Jujuba.
E o segui.
Quando me levava em direção a um quartinho sujo, parei. Pensando bem, não precisa mais. Eu mesma posso desenhar. Sou ótima em colocar a carinha no sol.
_Moça, -uma voz grave - a senhora não vem?
_Estou indo. -Meu sol com carinha não ia dar certo mesmo.
_Jujuba, visita.
O tal talento estava agachado, de costas para a gente. Ao virar-se, ele respondeu. O germânico balbuciou algo e foi embora. O talento era alto, braços fortes, pele claro, loiro. Não esses com cara de criança. Cabelos lisos e curtos. Eita Jujuba gostosa.
_ Moça, alou!
Voltei em mim.
_Desculpa. Sou Melissa Grassi. Trabalho na editora Lotos. E ouvi muito a respeito dos seus dotes artísticos.
_Vocal, guitarra ou bateria?
_Pintura. -Sorri amarelo. Ele nada respondeu. E como pedido de piedade, argumentei -Olha, vou ser bem sincera com você. Um dos maiores escritores do país está na minha sala se entupindo de café e ao menos que a cafeína já tenha atingido o seu sistema nervoso, eu preciso de um desenho, ou esboço -a verdade é que eu estava aceitando até um papel em branco, desde que fosse arte, já bastaria. - em 3 minutos.
_Qual é o tema do livro?
_Revolução da espécie: fadas e seus afins.
Ele foi até uma gaveta, remexeu alguns papeis e me entregou o paraíso. Peguei o meu pedaço do seu e anotando um telefone em outra folha disse:
_Esse é o telefone da editora. Liga lá. A gente agenda um horário para você receber.
Liguei para Lúcia, entrei no carro e parti.
As sobrancelhas grisalhas do meu maior cliente remexeram um pouco antes do veredito final.
_Precisa de mais azul no fundo.
Aliviei.
_Pegue minhas coisas. Vejo vocês na minha noite de autógrafos.
A porta se fechou. Desfaleci no sofá recém-desocupado. Eram 7:30 e eu ainda estava ali.
Dirigi até um apartamento recentemente chamado meu. Abri a porta. O telefone tocava.
_Jú! Jú! Cheguei! - Juliana é a minha melhor amiga desde o colégio. Publicitária, trabalha o maior tempo em casa e quando liguei chorando contando do ocorrido dramático, ela foi a primeira a me oferecer abrigo.
_Jú! Jú!! -gritei mais alto. Ela estava na cozinha, preparando a salada. _Own!!
_Oi! -tirou os fones do ouvido -Não ouvi você chegar.
_Ele ligou muito? -sentei no balcão da cozinha.
__Jú! Jú! Cheguei! - Juliana é a minha melhor amiga desde o colégio. Publicitária, trabalha o maior tempo em casa e quando liguei chorando contando do ocorrido dramático, ela foi a primeira a me oferecer abrigo.
_Jú! Jú!! -gritei mais alto. Ela estava na cozinha, preparando a salada. _Own!!
_Oi! -tirou os fones do ouvido -Não ouvi você chegar.
_Ele ligou muito? -sentei no balcão da cozinha.
_O dia todo. Você devia falar com ele. O síndico veio reclamar.
_Não há mais nada para dizer quando tudo já está dito e feito. -dei de ombros.
_Bom, Mel, você que sabe. -colocou a salada na mesa -Hum... -comentou comendo um alface -Sergio pegou suas coisas hoje.
_Sério? -exaltei-me. _Jú, com todo o respeito,- abracei-a e beijei-a no rosto _ mas eu amo o seu namorado!
Ela sorriu.
_Ele é uma gracinha, não é?
Localizei minhas coisas e, como uma criança em meio dos presentes de natal, sentei no chão e acariciei os meus pertences. Dois meses eram tempo demais usando o mesmo par de sapatos.
_Como Sérgio fez para entrar?
_Foi com uns amigos. Mostraram o mandato judicial. Só assim ele cooperou.
_Carlos é um ridículo mesmo. O que ele queria? Pedir um resgate?
_Onde você o conheceu mesmo?
_Em uma boate GLS. Éramos os dois únicos héteros dali. Eu fui com a Sandra, sabe? Era a primeira vez que ela saiu do armário. Foi quando você conheceu os pais do Rodolfo.
_Lembro. -Sentamos na mesa. Juliana cozinhava muito bem. -Casal agradável. Pena que o filho...
_Esse foi o da neura do cachorro?
_Exato. Quando o vi chutando o pobre animal, terminei. E os meus planos de casar, ter dois filhos e cinco cachorros?!
O celular dela toca.
_Oi, amor. Não, não estou sozinha. A Mel está aqui. Se ela vai sair?Não, acho que não, por que?
"Ótimo. Agora ele queria me expulsar da casa da minha melhor amiga?"
Afoguei meus pensamentos no tomate.
_Então tá. Beijos. Tchau.
_Você quer que eu saia?
"Como assim? Sou praticamente uma sem-teto!"
_Não, lógico que não.
"Bom. Alguém aqui tem sensibilidade perante o meu estado debilitado" Dramática, eu sei. Mas se eu sair daqui vou para onde? Vender coco na Bahia?
_Ele anda estranho esses dias. Só isso. Acho que vai me dar uma dessas notícias cabulosas. Dizer que vai se mudar para a África e nosso namoro será baseado em cartas.
"Hum... África é pior que a Bahia."
_A gente supera. -Deu de ombros. Jú e a sua falta de drama.
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