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segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Lulu


Em uma bar qualquer, em uma cidade igual a sua...
_Ai, amiga, nem te conto. Fiquei com um cara horrível esses dias! Até traumatizei. -disse Carla sentando-se na cadeira.
_Jura? Que horror! Qual é o nome dele? -indagou Vanessa, já acomodada.
_Paulo Rodrigues.
_Humm... -Vanessa soltou apreensiva.
_Que foi? Que houve?! O que é esse "hum"?
_Esse Paulo tem uma das piores notas no Lulu.
_Não creio!!
_Sim, sim. Cinco ponto três. Não sei como você foi ficar com ele.
_Ai que horror! Eu estava sem o 3G! ÓDIO! E aquele lugarzinho também nem tinha wi-fi. Temos que parar de ir nessas geringonças!!
Chega a quarta amiga, Julia.
_E ai, meninas, como estão? O que me contam? O trânsito está péssimo.
_Carlo ficou com um cinco ponto três. -soltou Vanessa despretensiosa.
_O que??? -indignou-se Julia. -Eu esperava mais de você!
_Estava sem 3G!!!!!
_Enfim... -interrompeu Vanessa. -Você precisa pegar um de nota mais alta, para tirar essa aurea ruim. Olha aqui ó... -e mostrou o celular -Esse aqui é nota 9.4. #quernamorar. #fillhinhodamamae
_Não!! Assim não... Vê a lista dos melhores de camas. Hoje eu quero dar.
_OK.
Julia puxou o braço das amigas.
_Olha, olha quem vem vindo.
Olharam desconfiada.
_Quem é?
_Rodrigo Gonçalvez. A nota dele é 9.6. Esto seguindo ele no facebook a semanas! Acho que vou lá falar com ele. -e levantou e se foi.
Carla suspirou.
_Achou algum?
_Tem uns aqui. 9.9; 9.5; 9.7...
_Ahh... nove não. Muita concorrência.
_Fiquei com um nove uma vez. Ele tinha acabado de chegar e não tinha muita nota no lulu, mas assim que ficou mais conhecido a nota foi aumentando. Olha, achei um 8 aqui. 8.5.
_Oito é bom.. tá na metade de cominho. É bom, mas não atrai muita inveja.
_#maosfortes? ou #caideboca?
_Espera, espera, espera. -falou Carla. -Quem é aquele ali? Calça jeans e camiseta polo verde?
_Nossa... verdade, não tinha reparado. Garçom, vem cá. Quem é aquele ali?
O garçom olhou e respondeu meio de ladinho.
_Nota 6.3.
_Ahh.. obrigada. Não estamos pra 6.3 hoje.
Desanimada, Carla diz:
_Me vê o #caideboca amiga.
_É aquele ali de camisa azul.
_Voltei. -chegou Julia. -Vocês acreditam que o gostosão lá é ruim demais?!? Estou chocada! Vou colocar agora a minha opinião no lulu. O mundo precisa saber disse. Onde já se viu!
Carla também volta desanimada.
_Que foi? É ruim também?
_É gay.
_Ixii... isso o lulu não fala.
_Garçom, traz mais uma rodada aqui que hoje a noite tá dificil...

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Raios e Trovões


Acordei assustada. 6:40 a.m. e um trovão de chuva forte ecoou pelo meu quarto. Olhei para o lado, o atual dormia profundamente de costas para mim. Até roncava.

Lembrei do ex. Todas as vêzes que trovoava ele me abraçava e gemia como uma menininha, tampando os ouvidos com as mãos de homem.

Lembrei de um quase possível atual. Ele me olhava e dizia que ia me proteger. Chuva era só São Pedro lavando o Céu.

Virei para o lado e dormi. Era tão bom estar com alguém tão maduro quanto eu. 

quinta-feira, 11 de julho de 2013

A verdade nua e crua


Quando criança, minha maior preocupação era as pessoas descobrirem minhas falhas. Seja pela meia que estava rasgada no dedão, ou o cabelo mal arrumado ou ir de short em dia de frio. Se alguém comentava que eu estava diferente ou esquisita, entrava em pânico. Me escondia no interior do parquinho, o coração batia rápido, suava frio e rezava baixinho para ninguém perceber o defeito.

Meu medo resultava em parte da insegurança de criança e e outra, de um pequeno bulling sofrido na primeira infância. Naquela época, ninguém sabia o que era isso. Era tudo brincadeira de criança. Estudava em uma das escolas mais elitistas da minha cidade. Escola onde as mães e filhas andavam de Chanel e viajam para os exterior nas férias. Enquanto eu ia para a cada da minha avó e tentava não me incomodar com os meus quilos a mais. Alias, esse era o motivo central da implicação.

Minha sorte é que eu era inteligente. Inteligente e quieta. Aquela escola me fez a aprender a conviver com gente que não gostava de mim e o  meu jeito doce e silencioso foi desabrochando aos poucos.

Hoje, voltando no tempo, dou risada da minha preocupação boba de criança. Magina que alguém ia reparar em um mim. Um ser completamente invisível, incapaz de chamar atenção para si.

Aos 20, tenho plena consciência do meu poder mágico. Aquele de sumir em meio a multidão, passar despercebida. Eu não sou e nunca serei aquela pessoa que chama a atenção de um músico no palco. Nem se eu subir no palco, na verdade. Nunca virão falar de mim para alguém, ou comentar do meu vestido.

Mas essa característica me rendeu uma das melhores coisas da minha vida: meu emprego. Sei que a anos escrevo aqui e poucos sabem realmente quem sou. Apesar da minha revelação bombástica, nada acontecerá comigo, pois meu IP está codificado para mudar a cada segundo, impossibilitando a minha localização. Você pode até tentar me conhecer, mas não vai.  São circunstâncias que meu estilo de vida prevê.


Sou uma Agente Secreta. A anos não digo isso a ninguém. Desabafar é como tirar um trator das costas. Porém, não sou uma Agente Secreta qualquer. Sou uma Agente Secreta de Narnia.

OK. Pode parar de rir agora. Nárnia existe sim. Não do jeito que foi retrata em livros/filmes, tem muito mais coisa bizarra lá. Aliás, a história do Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa foi encomenda pelo meu chefe. Eles queriam esconder, mostrando. O resto das crônicas também.

Mostramos uma parte do Mundo de Nárnia para o autor. Ele se encarregou de inventar o resto. Lewis sempre foi muito prestativo. Eu nunca soube o porque. Alguns diziam que ele tinha um parente que amava muito trabalhando na agencia, por isso queria protege-lo a todo custo. Outros falavam que ele era membro dos mais antigos, e aposentado, resolveu ganhar um dinheiro.

O fato é que a missão foi bem concluída. Nárnia está mais do que protegida. Protegida desta dimensão em que você, meu caro leitor, vive. Mas existem mais de 50.000 dimensões. Lembro-me de ter decorado o nome de todas elas para me classificar para ser espiã. Bons tempos.

Cada dimensão tem sua características e rixas internas. Existem vários tipos de conflitos e lideranças. Apenas umas 50 mantém contato direto com Nárnia. Conhecemos suas línguas, costumes, tradições, estilo de vida. Algumas outras são hostil as nossas tentativas de alianças. Não a culpamos. Cada uma possui um tipo de preocupação a respeito da sua própria existência.

Mas você deve estar se perguntando: Nánia? Espiões? O que eu ou você temos a ver com isso?
Bem, você eu não sei. Mas eu sou Narniana de nascença.
Pausa.
RSRS. Brincadeirinha, ok? Sou daqui mesmo.
A ligação que temos com Narnia é que ela é uma dimensão mais completa e desenvolvida que a nossa. Por isso, nossos chefes de estados optaram por mesclar, com uma política externa de dimensões única. Narnia e a nossa dimensão possuem características de convivência iguais. Então acordos foram feitos e hoje eles nos representam.

Pessoas como eu, e bem melhores do que eu, fomos convidadas para trabalhar nesse tipo de instituição. Zelando pelo bem estar das dimensões envolvidas no Acordo de Azara. Esse acordo prevê a junção citada acima. Existem mais umas 3 ou 4 dimensões nele. Tudo para melhorar a nossa segurança e o bem estar entre os povos.

Ok. Não é tão lindo e eloquente como o discurso, mas funciona mais ou menos daquele jeito.

Você deve achar estranho eu está dizendo tudo isso em um domínio público. Bom, como eu disse em outras ocasiões: "Escrever faz mais bem ao escritor do que ao leitor".

domingo, 16 de junho de 2013

O que eu quero

O que eu quero são seus olhos em mim quando passo, e um sorriso quando retorno o olhar.
O que eu quero é seu convite para dançar quadrilha, e não uma intimação da nossa amiga em comum.
O que eu quero são palavras verdadeiras, sejam elas de sim ou não.
Quero que você me diga que não foi tão especial quanto foi para mim.
Depois faça uma careta, e complemente com "Só que não."
Não quero flores, ou anúncios no jornal.
Quero olho no olho, mensagens no facebook e recadinhos no celular.
Quero ter ciúmes de você, e depois perceber o quão boba fui.
Quero tomar sorvete sem se importar com o gosto, ir no cinema sem saber o filme, e deitar na cama sem dormir.
Quero que um dia chuvoso seja mais um motivo para ficar junto, e que a lua mais bela do ano zele por nós.
Quero que você me diga que lembra de mim desde o vídeo que me viu cantando.
Quero que quando você me perguntou se ia voltar ou não para a minha cidade não seja apenas para puxar assunto.
Quero risadas como na primeira vez que nós vimos.
Quero abraços, beijos, insegurança e a certeza de que tudo está bem.
Quero que você largue a sua timidez e prove para Miss Corações Solitários que você está curado da síndrome do homem frouxo.
Quero poder me inspirar em você e não esconder minhas vírgulas.
Quero dia dos namorados todo o dia, e quando perguntarem se estamos juntos, eu diga :"Estamos do jeito que estamos"
Quero que me assuma para os seus amigos e se interesse em conhecer os meus.
Quero que o seu abraço afasta todos os medos, e o beijos me deêm certeza de algo bom.
Quero que a sua mão me conheça, a sua cabeça me intenda, e o seu estômago crie borboletas por mim.
Quero chorar de medo e rir de alegria tudo de uma vez.
Quero que você passe para dar "oi" e me ensine sobre Machupicho.
Quero que divida suas paixões e crie novas.
E por fim, quero que diga: "Caralho, tô gostando de você, merda!"


PS: daria uma música isso... 



quarta-feira, 12 de junho de 2013

Unnamed

Não foi difícil acreditar nele. Os olhos me atendiam com ternura. O beijo era doce e o jeito confirmava a nossa predestinação. Começamos pegando intimidade aos poucos. Foram gestos e abraços. Risadas. Lábio no lábio, respiração junta. A química da pelo.
Meu rosto na barba dele, seus olhos em mim. Os lábios desenhando no meu pescoço. A aproximação carinhosa.
Aquele primeiro dia foi gostoso. Ele já prestava atenção em mim a muito tempo, como o tipo de amor platônico que eu costumo ter pelos outros. Gostei de dar de cara com um verdeiro observador.
Dançamos. Conversamos. Rimos. É difícil descrever a sensação. Já dancei com outros. Já ri de outros. Nada se comparou. Talvez tenha sido o jeito que ele me tratou, a situação carente do meu momento, ou mesmo a música romântica e uma perspectiva de noite sem muitas novidades.
Ele disse do futuro, de festas, de sonhos de filhos. Um sentimento de que, se a lua sumisse, tudo sumiria.
E não é verdade? Os amores de hoje se resumem a uma boa lua no céu, nada mais. Nada de sol. Nada de dia.
Como se gostar fosse tão perigoso e proibido que deveriam acontecem apenas na escuridão da noite, no anonimato da multidão, na estranhez de um estranho.
Depois veio a falta da contato, o fingir que esqueceu. E a história vai acabando, passando devagar sem chocar, mas marcando.
Parece loucura. Escrever mensagens românticas relembrando um momento de uma vez só. A regra da vez era aproveitar momentos e seus sentimentos. E esse foi tão intenso. Não sei o que é. Não sei a onde vai e porque.
Admito que pode ser carência, falta do que fazer, de um livro para ler. Eu não sei.
Só sei do frio na barriga. Coração acelerado. Medo de perder. Medo de ganhar, de encontrar e nada acontecer; de desistir.
Há dois medos: acreditar sem nem pensar, ou desistir. Não quero desistir. Quero essas sensações a flôr da pele. Mas... mas... não quero enjugar lágrimas.
Não quero perceber, no final, que foi unilateral, que só aconteceu porque não havia nada melhor para fazer, que o amor platônico já foi pego agora passa-se para outra, que há alguém a espera, que ele é apaixonado pela melhor amiga.
Esse é o problema do amor. É como um montanha. No alto, tem uma vista incrível, o vento no rosto, o sol se pondo. Dê uma passo em falso, e você cai.


sexta-feira, 7 de junho de 2013

O momento

Ele estava com aquela conversa mole. Desde o carnaval aquele chove não molha. Eram "amigos", entende? As más línguas disseram que logo depois que ela foi embora, o moço não parava de perguntar "Cadê a fulana? Cadê?".
As férias andaram e a conversa continuava. "É seu aniversário quarta?", perguntou ele, "Vou te pagar um sorvete".
Soverte, sei.
Ele foi na festa dela no alojamento da faculdade. Não conversaram muito pessoalmente. Com todas as atenções voltadas para a aniversariante, ela não se preocuparia com o magrelo de dois metros.
Primeira festa do semestre. O cara que ela queria ficar (e não era o magrelo de dois metros) estava bebaço e mal olhou para a moça, destruindo duas esperanças e instigando seu instinto assassino.
Dia seguinte: segunda festa do semestre. "Quer saber, hoje eu estou bandida, vou ficar com o magrelo de dois metros." A mensagem correu e logo o magrelo veio falar com a fulana.
Ai veio a parte boa. O xaveco. A paquera. A competição com um outro cara que também a queria. Mas como diria Miss Corações Solitários, sofremos do mal do homem frouxo.
O magrelo alto logo foi chorar magoado em um canto da festa. Fulana ficou desesperada. "Como assim ele já parou? Eu só queria enrolar mais um pouco! Quer saber..."
A coragem foi tomada. Só esperava a largada. "Se acontecer isso, eu faço aquilo." O isso aconteceu. Fulana não pensou duas vezes. Invadiu a roda que o magrelo conversava e lascou-lha um beijo.
No inicio ele ficou assustado, com os braços abertos sem entender direito. Mas ele era uma cara esperto, não precisou de mais meias palavras para agir. Olhou para ela sorrindo. Confuso, mas feliz. Para ele, estava tudo perdido, então essa reviravolta. Depois de um tempo, ela chegou a perguntar:
"O que achou de tudo aquilo?"
"Tá brincando? Eu adorei!" E os olhos brilhando não o deixavam mentir.
E depois?
Depois aconteceu o que sempre acontece: coisa nenhuma. Eles podem até ter ficados algumas outras vezes, mas o perigo de se apaixonar está presente em ambos os sexos. Por isso é que eh sempre bom imortalizar o momento, e não a história.

sexta-feira, 31 de maio de 2013

Uma tarde de férias

Era uma dessas tarde frescas, sonolentas. Dessas em que as ferias estão acabando e há uma preguiça a mais no ar. Ela estava de roupa de ginastica pronta para dar o bote na geladeira. Psicolagicamente já se conformava, afinal, perderia naquele dia mesmo, todas as calorias extras recem-adquiridas. A campainha tocou, e a moça correu com o podim para o seu quarto.

A empregada atendeu a porta. Os homens que vieram substituir a porta do guarda-roupa do caçula não precisavam mais serem guiados pela casa. Eram dois, o empregado e o dono. O ultimo, entretanto, não estava lá apenas pelo seu simples dever de comerciante, se é que posso dizer sem adicionar desconfianças em uma certa namorada.

Do quarto da jovem, ela podia ouvir, enquanto deliciava-se cheia de culpa, as conversas nada peculiares. Uma das voses, todavia, era sedutora. Apesar de ouvi-la em um enredo de malandragem, resolveu memoriza-la para depois imortali-la em algum dos seus manuscritos. Cansou-se, pegou um livro épico para mergulhar seus pensamentos. Em meio das Cleopatras e Cesares, percebeu formigas a mais em sua escrivanhia. Artropodes inxiridos! Saiu do seu comodo de durmir e levou o prato vasio para a cozinha. Iria matar as malditas afogadas!

Zuleide veio correndo ao seu encontro. Ofegante e animada, falou-lhe como em um segredo:

_Quando você passou, o mais novo disse assim : "Por isso é que eu não caso mesmo, com uma beleza dessa, quem é que guenta?"

Ridiculo. Só porque esse marmanjo era o dono da rede dessas lojas de moveis ele não tinha o direito de trata-la assim. Ela não se importava o quão próximos eram seus pais politicamente. Detestava esses machistas de plantão. Achava que ela era o que? Mercadoria? Reprodutora? E além do mais, estava na casa dela. DELA! Não em exposição como em um açogue. Se não for respeitada onde mora, será aonde?

Nem se atreva a pensar "Na casa dele". Meditou consigo mesma.

_O que eu falo para ele?- perguntou Zuleide.

Mas ele tinha feito alguma pergunta?

_Diga que sou soro positivo, Zu. - e se foi. Ficar em meio dos Augustos seria muito mais util.

Sorte ou azar, as paginas acabaram. Terminaram tão rapito que mal a cama foi moldada pelo o peso do seu corpo em regime. Olhou no relogio. A mãe só iria busca-la daqui meia hora para a academia. Pegou seu companheiro com letras e foi acomoda-lo em uma das pratileiras do escritorio barra biblioteca. Fitou-as mais um pouco, e intereçou-se por contos de bruxaria. Acariciou sua capa vermelha antiga e embalando-o em seus braços ia subir para o segundfo andar quando foi interrompida.

_Ei, -era a mesma voz sedutora - quantos anos você tem?

Ela virou-se, e todo o seu encanto desfaleceu. Será que ele não tinha, mesmo, nada mais importante para fazer? Por que não ia xavecar a vozinha dele?

_13 e você?

Ele fitou-a da cabeça aos pé. Alta, corpo definido, seios fartos, cabelos longos. Tudo o que os seus 17 anos podiam lhe render.

_Você não tem 13. Parece ter 19. -disse como se fosse um crime não querer falar com ele.

_E você parece ter 40. Quantos anos tem?

_27.

Ela levantou a sombrancelha como num gesto: "Viu, otario". E virou-se. Subiria mais rapido a escada se soubesse que seria mais uma vez interrompida.

_Passa o seu celular. -refletia arrogancia em ordenar algo que deve ser pedido com ternura.

_Não tenho. -Era evidente a sua mentira.

_Como com uma casa tão grande você não tem celular? -parecia quase guspir as palavras.

_Prefiro outros tipos de investimentos. -olhou-o fixamente. Estava no auge da sua intelectualidade. Oculos de grau, tênis desgastados, livro nas mãos. Até sentiu um pouco de simpatia por ele quando lhe veio a mente que ele podia dizer "Bolsa de valores?".

_Em quê? Sapatos? -fitou-a com sarcasmo.

_Sossego.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

A ficada

_Fica comigo...
_Não!
_Mas por que? Você ficou com o meu irmão! E até chamar para ir pra casa ele chamou...
_Gato, deixa eu te explicar: o mundo é mutável. As pessoas se alteram. E as espertas não cometem o mesmo erro duas vezes.
_Quer dizer que você não vai ficar comigo só por causa do meu irmão?
_E por que não? Você não está me levando a sério por causa dele. O que me faz agir diferente?


terça-feira, 25 de outubro de 2011

O mal uso

Nunca fui daquelas pessoas más. Tampouco fui considerada uma boa samaritana. Pertencia a insignificância da média, uma média de áurea branca e gentil. Ignorando as maldades do ser humano, sempre fui bondosa. Nunca tirei de mim para dar aos outros, mas fazia o possível para ajeitar as coisas.Vendo o lado bom dos homens e acreditando no bem de uma maneira geral.
Era ingênua. Digo ingênua para não me assustar ao ouvir de minha boca as palavras "tola" e "otária".
Agora deparo-me com o uso extensivo de meu ser, com minha manipulação.O mal uso de mim mesma.
Comprada com doces e carinhos.
Seria o reflexo da minha carência imprópria?
Não sei. Só sei que os sussurros sopram em meus ouvidos e com eles vem a certeza de que quero aquela pessoa o mais longe de mim.
Não me importa se arranjarei coisa pior, mas ela me mata aos poucos, com agrados e sorrisos.
Meu coração sangra quando minha mente insiste em absorver toda a situação.
Ninguém tem o direito de fazer de mim uma marionete.
Mas os sussurros me avisaram. E eu obedecerei.
Ela vai embora.


quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Doce ternura

"Por um momento eu senti raiva ao ver a foto da anterior no computador dele. Eles abraçados, rindo.Tão manhoso, tão feliz. A imagem daquela cena não apagou-se da minha mente quando pensei: 'Ficaram juntos pelos motivos errados. Ele era moleque, queria só sexo'.
Fitei-o procurando nele algo que o incriminasse. Só precisava de uma faísca para explodir tudo e sofrer sozinha na solidão.
Não encontrei. Vi felicidade, paixão. Nos olhos percebi que o passado ficaria sempre para traz e o futuro era apenas nós. Ele me amava. Mas do que amou a anterior, e muito mais se ficarmos juntos para sempre. Desapareceu os meus temores e tive uma certeza.
A ternura me envolveu e eu o abracei.
Nos amores femininos aprendemos a desconfiar eternamente naquele ao nosso lado, mas esquecemos de aprender a fechar os olhos e acreditar.
Ele retribuiu o abraço, sem saber o drama interno que acabara de passar.
Ele era o cara certo. Minha busca terminara. E ao cara certo basta apenas mergulhar. Mas só a ele.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Vida De Mulher Feia

Ato 1

Nota inicial: Atenas (At) é a deusa grega da sabedoria e da guerra, nesse caso dá-se mais destaque a ela como representação da Inteligência.Pode ser chamada de Minerva.
Afrodite(Af) é a deusa da beleza e do apelo sexual. Seu segundo nome é Vênus.
O Cupido (C), ou Eros, é o deus do amor, o responsavél pela atração entre dois seres.


Cena 1

Af _Eu sou a mais importante!
At -Não! Sou eu!
Af _Que você que nada!
At _Engana-se profundamente. Sou a personagem principal de tudo isso. tom sereno
Af _Você?! deboche Sou EU quem eles buscam! Eu!
At _Blasfêmia, Afrodite, blasfêmia! Já disse que EU sou a mais importante!
Af _Você, Atenas?Quem é você? Não é nada! Ninguém te quer! Eu por outro lado, sou a beleza em pessoa. faz alguma dancinha sexy 
At _A pessoas sofrem por você! tom de nojo
AF _A loucura é sua companheira!
At _O tempo te corroe!
Af _A demência te assusta!
At _O tempo veem mais rápido!
Af _Não me impediu de ser clamada por poetas!
At _Poetas que usaram da minha inteligência em suas penas para resumir o mundo na magnetude das palavras.
Af _Sheakespeare louvou a mim!
At _Fui EU que o deixei famoso! Sem os enlaces das suas palavras seria um comum.A história nem era dele! Você não participou de nada!
Af -Fui comparada à rosa.
At _Aquilo era filosofia!
Af -E Camões? Vinícios de Morais? Virgílio?
At _Todos filhos da minha sabedoria.Sabedoria que por sua vez nunca é obsoleta! Você muda os seus padrões como se muda de calcinha!
Af _Eu não uso calcinha ! distraída
At _Beira a inutilidade! Não sabe nada! Quem foi Cristóvão Colombo?
Af -Ah.... voz de meiga O Cris foi uma maravilha! abana-se como se tivesse lembrando uma transa
At _Ele descobriu a América!
Af _Imagina! Ela já estava bem escancarada quando ele chegou! indignada ciumenta Ele me contou tudo! O pobre Cris não teve culpa de nada! Além do mais, eu não estou nem aí. Para que me serve saber quem ele descobriu ou deixo de descobrir?
At _Serve para passar no vestibular!
Af _Quem precisa de vestibular quando se tem tudoooo iisssooo? dancinha sexy
At_Você não põe nada na mesa!
Af _Querida, chega perto como se tivesse seduzindo Eu coloco qualquer um na mesa. faz o sinal com as mãos de sexo Do jeito que você quizer. abana a mão de calor 
At _Prepotente!
Af _Metida!
At _Gorda! fala com gosto
Af cara de indignada _Já chega!Vamos arranjar alguém para acabar com isso de uma vez! Cupidoooo!! grita

Cupido aparece,de preferência, de fraudas. Um homem é mais aceitável, para quebrar tantas mulheres no palco.


C _Chamou?
Af _Cupidinho, meu amor.vai e abraça ele Que bom que você está aqui. acaricia Senti tanta saudade. se esfreda nele. Atenas chama a atenção fazem um rarram! Ajude-nos a resolver um empace.Quem é mais importante: eu? faz um charminho Ou ela? séria
Cupido olha seduzido para Afrodite pronto para responder quando Atenas, afastada e de braços cruzados diz
At _Estou fazendo a sua contabilidade.
Cupido se assusta
C _Bom... sorri seco As duas são importantes.
Af _Ah, Cupido, queremos saber qual é a maisss importante. ainda acariciando ele e com voz meiga.
At _Isso, Cupido, diga par a gente. Qual é a mais importante? tom serio e ameaçador
C _Quem sou eu para decidir isso? Sou só o cara com as flechas.
As deusas continuam encarandu-o
C _Bom, mas se querem saber, pensa um pouco acho que quem deve decidir isso é o homem! solta como um trunfo.
Af _O homem? Que coisa mais ridícula! se afasta do Cupido com descaso
At _É muito machismo da sua parte.Onde já se viu?
Af _Nunca devíamos ter confiado nele.
At _A culpa foi sua.
Af _Está certa! Eu adimito. Um homem de frudas?
At _Os esteriótipos não metem. Ele é só o cara que atira as flechas.
Af _Tem razão.
At _Eu sou a Razão fala como se fosse obvio, um crime Afrodite não saber disso, até gaba-se
Af _Precisamos arranjar outro jeito.
At _Que tal aquela que ele acertar primeiro é a vencedora? fala armando algo com Afrodite. Ambas olham para o Cupido. Ele tem medo.
Af _Fechado. voz maquiavélica
C _Não. Vocês não vão se meter no meu trabalho. Ele é meu! Fiquem longem! Não! Nãoooo ! Nãooooooooo!!
Elas vão se aproximando dele e a cortina se fecha.


Cena 2


Um homem sentado no centro. Um lado uma mulher feia lendo, do outro uma bonitona se exercitanto. O cupido está de escanteio e vai fazer a mira. Afrodite aparece e desvia a flecha, com delicadeza, para a mulher bonita. Olha para o Cupido e sorri. Ele retribui todo apaixonado. Então surge Atenas e empurra a flecha com força para a mulher feia. Ficam as duas deusas em pé de guerra, uma empurando a flecha e se olhando feio. O Cupido dá chilique.


C _Chega!! Eu não aguento mais! Você estão me deixando louco! Um homem não pode trabalhar desse jeito! Esse serviço é horrivél! Não ganho décimo terceiro, férias remuneradas, e ainda me chamam de cego! Agora com vocês me enxendo... Não! Já chega! Eu me demito! joga o arco e flecha no chão. Nunca mais quero ouvir falar de você duas na minha vida! E essa roupa ridícula!!!!!! faz como se tivesse tirando a cueca enroscada no.... Não dá espaço ...! Já chega! Eu me demito!! sai bravo, descabelado 
At _ Que irresponsavél! Falta de proficionalismo! Coisa mais ridícula. Rude! Sem compromiço nenhum! Prepotente ! indignada
Af _Broxa!




O ato 2 veem assim que a inspiração deixar. Espero que tenha gostado. ^^

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

O segredo



Bodas de Ouro dos meus avós

Alguém pergunta o segredo de 50 anos juntos

ELE: "Fale 'Amém, Amé, Amém' "

ELA: "Finja que não escutou"

OS DOIS : "Ame!"

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Querido Papai Noel

Parte 4


Eu sei o que você deve estar pensando. O que isso tem haver com o natal? 
Eu não sei.
Shakespeare provavelmente diria: "Há mais mistérios entre o céu e a terra que pode supor nossa vã filosofia"
Eu não o censuro. Contudo, o plagiei.  
Quando acordei naquele mesmo dia, estava coberta com uma manta vinda do além, ou do sofá. Debrucei a mão para o lado e não senti nada. Talvez sexo sem compromisso seja assim mesmo. Fitei o teto. Era uma mulher independente, pagava as minhas contas, e daí se eu não estava procurando romance naquela noite? Então olhei ao meu redor. Vi que as roupas ainda estavam jogadas aonde deixamos. As minhas e as deles.
Ouvi um barulho vindo do banheiro. Fechei os olhos e, como uma criança, fingi dormir. Logo senti uns braços me envolvendo.

O modo como as coisas ocorreram bem a parti dali foi uma reviravolta.
Minha mãe ligou, revelando de modo maternal como eu estava mal nos últimos dias. Acabamos passando o dia 25 lá. Depois, à noite, indagando porque ele ainda não tinha dito que ia comprar algo na esquina e desaparecido, o telefone tocou.
Era Juliana, exigindo de mim as vezes de melhor amiga: ouvir, nunca falar nem escutar.
Um ano depois, na frente da igreja, com ela prestes a entrar, fizemos um retrospectiva dos fatos.
_Estou tão nervosa.
_Calma, vai dar tudo certo.
_Lembra que confusão que deu quando o Sérgio propôs? E a gente pensando na África.
_Pois é. Ainda bem que o Rô nem ligou. Fiquei admirada por ele não ter me deixado naquela noite. Sabe o que ele me disse? Que já tinha me visto no seu escritório. E eu nem tinha reparado nele
_Sério?E quando ele disse isso?
_Ontem, logo depois que me propôs... -fingi naturalidade.
_O que?! Não acredito! Agora estou muito mais nervosa!
_Ai, amiga, e se eu não for boa?
_E se eu tropeçar indo para o altar?
_Meninas, acalmem-se. -ordenou a mãe da Jú. - Deixe as coisas acontecerem naturalmente. O que tiver que ser será.
Foi naquele momento que liguei os fatos. Tudo tinha passagem direta para acabar em tragédia. Meu coração estava partido. Ele é neto do cara que inferniza a minha vida. Não respeitei a regra do terceiro encontro e deitamos juntos logo de cara. Ele teve uma conversa amigável com o meu ex. Hoje eles jogam bola juntos. Mas, contradizendo as expectativas, tudo acabou bem. Bom, ainda não acabou, mas eu estou trabalhando nisso. Porém, como é possível?
Analisei a situação com meticulosidade e constatei. Alguns poderiam dizer que foi o destino, ou a deusa da Fortuna, mas para mim, não há dúvida: o bom velinho tem um dedo nisso.

Querido Papai Noel

Parte 3


A noite de gala estava indo bem. Meu cabelo ficou com um enrolado bonito, preso uma parte para traz. Pobre Sirley, gastou todo o seu lakê comigo. Mas valeu a pena. Graças a ele, uma armadilha para moscas, os insetos estavam longe da comida. Entretanto, era uma armadilha estonteante, devo adimitir.Meu vestido era longo e preto, daqueles com a saia bem esvoaçante, com a cintura e o busto bem demarcados.
Eram 23:30. Eu já havia recepcionado mais de 1500 convidados. Incrível o que um convite podia fazer com as pessoas. Pelo menos un terço nos dava o prazer da sua presença só por causa dos fotógrafos, apenas para exibir seus trajes importados.
Da outra parte, uns 90% mantinham seus pensamentos, atos e mãos na comida e nos coquetéis. Mais precisamente no último, afinal, que alcoólico, em seu juízo perfeito, e talvez até meio bêbado, renegaria taças cheias de graça?
Um garçom passou e peguei um martini. Ele desapareceu em segundos do meu copo.
_Senhorita Melissa? -aproximou-se uma das assessoras do gamo-mor: "O" escritor. -Ele mandou avisar que vai chegar em 10 minutos. Todos estão aqui?- perguntou seca.
Seis meses com aquele senhor e o trauma nas pessoas próximas era evidente.
_Diga que estamos prontos. -assenti e a moça se foi. Não estávamos, aliás. As pessoas mais importantes não tinham chego, mas vai falar isso para ele? Se você quiser, vá em frente. Eu prefiro garantir o meu braço e o meu emprego.
Analisando o local, observei os 9% restante. Eram compostos pelas pobres almas obrigadas a comparecer só para garantir as migalhas no final do mês. Eram garçons, fotógrafos, jornalistas, trabalhadoras de editora cuja o sapato estava triturando seus pés.
Sentei-me próxima do balcão. Maldita liquidação.
_Oi, Mel, tudo bom?- aproximou-se uma desconhecida. Cabelos longos, uns 40 anos, pulseiras douradas e joelhos a mostra.
_Oi. -abri um sorrizão. Se tem uma coisa que eu aprendi foi: "Se você não entendeu, sorri e diz que sim". - Sim, estou ótima, e você?
_Bem, bem. -deu de ombros. -A festa está ótima. -sentou do meu lado. -Escuta, fiquei sabendo que você contratou o neto do autor para fazer a capa. Parabéns! Perfeita jogada. -fitou-me maliciosamente. Agora lembrava quem era: Concorrente! Quem fez a lista de convidados?
_Imagina. -desviei do seu jogo - Eu vi os desenhos do rapaz. Ele tem talento. Independente de ambos possuírem o mesmo sangue.- Pausei. A ficha caiu. Jujuba fazia parte dos 1%. Os únicos que, em tese, estão aqui sem serem obrigados. Jujuba era parente! Arregalei os olhos.
A víbora, que observava a minha reação, foi embora, dizendo:
_Eu reparei...
Como assim ninguém me avisou dessa pequena coincidência?!
Eu e Lúcia nos encontramos quando uma ia atráz da outra.
_Você sabia? -perguntei.
_Não. Só flertei com ele algumas vezes.
Aliviei. Ninguém podia me acusar de nepotismo ou golpe publicitário ou por simples puxa saquisse! O processo de seleção foi honesto. Não havia prova do contrário.

04h30min eu estava migrando para o lado de fora. De acordo com a minha lista mental eu já podia ir embora. A festa "depois" e a festa "antes" não teriam muita diferença. O autor estava lá. O publico estava lá. O discurso engana platéia estava lá. Exceto a comida e bebida. Elas deveriam acabar lá pelas 5.
"Droga! Devia ter pego outro martini".
Saí. Fora do salão ainda era comemorado o Natal.
Jujuba estava parado do meu lado. Cumprimentei-o. Aquele terno deixava-o ainda mais corpulento. Ficou elegante, mas os fios loiros continuavam os mesmos, chamando minhas mãos para desgrenhá-los.
_Melissa? Alou? Dormiu em pé?
_Estou bem e você? -respondi em sobressalto.
Ele riu.
"Merda! Clichê errado".
_Perguntei por que já vai embora.
Franzi a testa. Comentei que iria embora?
_Já deu a minha hora. -menti. Seria deselegante xingar o avô para o neto. -E você, o que faz aqui fora?
_Está tarde. Preciso ir. -sorriu.
Aquilo era algum tipo de brincadeira?
Um táxi estacionou. O meu ou o dele? Não importou. Ele gentilmente deixou-me passar na frente. O cavalheirismo não morreu, pensei. Porém, logo reparei que dividíamos o mesmo banco traseiro.
_Não se importa, não é mesmo?
_Imagina. -abri o meu famoso sorrizão. e dei o endereço para o motorista. Sem dúvida, o cavalheirismo foi assassinado. Aliás, C-A-P-A-D-O !
_Você se conhecem há muito tempo? -soltou o do volante.
_Não muito. -exclamei - Qual é o seu nome?
_Júnior.
_Sério? O meu também. -afirmou o motorista.
Boa. Quantos mil "juniors'' existem por aqui? Eu também poderia ser um deles se não tivesse um primeiro nome!
_Sim, mas, qual é o seu verdadeiro nome?
Ele olhou debochadamente.
_Acha que "Junior" é a minha identidade secreta?
_Você me entendeu. - fitei-o séria.
_Rodrigo.
_Eu tenho um sobrinho que chama Rodrigo!
Ah, não!
_Moço, o senhor pode parar aqui. -Entreguei o dinheiro e sai.
 Junior-Rodrigo-Jujuba foi atrás de mim.
_Posso acompanhá-la?
_O táxi te deixou aqui também?
_É perigoso andar sozinha a noite.
Pausei. Estava certo, apesar de tudo. Então olhei para ele dos pés a cabeça. Provavelmente seria o primeiro a correr se algo desse errado. Ah, mas e daí? Ele é tão bonito... 
Puxei assunto:
_Essa história de neto soa esquisita.
E era mesmo. Não podia imaginar que alguma mulher quisesse conversar com aquele senhor, imagina ter uma prole dele.
_Parece coisa de outro mundo, né? Ele e alguma mulher. -sorriu. Que sorriso!
Nota mental: agarra esse cara logo!
_Minha avó morreu cedo -continuou ele - Só depois disso vovô começou a publicar o que escrevia. Aí ficou assim... hum....
Insuportável? Arrogante? Egocêntrico?
_... diferente. -completou. -Vovó era romancista também. Meu pai é músico. Eu sou a ovelha negra da família.
Olhei-o interrogativamente. Será que era viciado em craque? Fumo? Sexo? Pedofilia?
_Sou publicitário.A arte é um robby. 
Aliviei. 
Como as famílias eram diferentes. Se você se apresentasse para a minha como tal, eles olhariam para o fundo dos seus olhos com piedade e diriam: "Mas você trabalha no quê?"
_Pronto. Chegamos. É aqui. - parei em frente da porta minúscula do corredor que dava para o andar do apartamento da minha amiga. Fitei-o. Quem eu estava enganando? Daria uma de boa moça na frente do cara mais atraente que me apareceu nos últimos mêses? Claro que os últimos mêses não poderiam ser parâmetro de uma vida amorosa descente. Todavia, já deu para entender a minha situação. 
Quando voltei a realidade para fazer a simpática pergunta cheia de más intenções. " Quer subir e tomar um vinho?". Percebi que nem precisaria insistir muito. Jujuba, com todo aquele charme, enlaçou a minha cintura, segurou no meu pescoço e brincou passando o rosto no meu cabelo. O nariz roçando de leve a minha bochexa. A boca enganando a minha. Apertou-me mais contra ele, e encurralando-me na parede, beijou-me tão profundamente que o tal do Nirvana apoderou-se de mim por um momento.
Respirei.
Abri a porta trêmula. Subi até o terceiro andar cambaleando. Claro que por dentro. Por fora eu era uma atriz holiwoodiana.
Seja abençoada as artes cênicas!
Uma porta era o limite. Planejei meus passos mentalmente: abriria um vinha. Jú tinha um guardado para ocasiões especiais. Nos embebearíamos e ....
_Maria Santíssima! - girei a fechadura e deu de cara com Sergio totalmente ... desprevinido. Engoli em seco. Virei de costas para ele. Então fiquei de frente para o outro. Situação mais constrangedora!
_A Juliana está ai? pergunta mais idiota. Ele não iria traí-la no apartamento dela! Retardada! A menos que fosse comigo, mas isso não vêem ao caso. Desesperada!
_Sérgio, é a Mel que está ai? 
Ele gritou um ''sim'' enquanto se cobria com uma toalha de mesa. Juliana levantou-se e veio até mim. Estava com um sobretudo vermelho recém-colocado. Virou-me a abraçou-se. Depois exclamou com uma surpresa carismática:
_Não sabia que trouxe visita. -sorriu.
_Ah, sim, esse é o...
_Rodrigo, como está? -virou-se para mim -Trabalhamos na mesma empresa.
_Jú, está pronta? -Sérgio apareceu vestido, de malas na mão.
_Sim, sim. Só preciso pegar a minha bolsa. -Pegou, voltou, beijou-me no rosto, e, quando balbuciei monossílabos interrogativos dela disse -África uma ova! -e se foi.
Depois de alguns segundos analisando a situação, desisti. Olhei para o balcão...
_Merda!
_Eles tomaram o vinho, né?
_Eu vou ver se tem outro no quarto. -Tinha comentado que iríamos tomar vinho? Podia ser um chá. Ou ele só veio por causa do open-bar? Credo!
Foi uma jornada épica atravessar a bagunça deixada naquele quarto. Depois de lutas incansáveis não achei um maldito vinho. Nem a rolha sobrou para contar a história. Entretanto, para completar o que eu achava que estava ridiculamente completo, o telefone toca.
_Não, não atende...
Tarde demais.
_Alô? -perguntou o publicitário.
Eu corri para o outro aparelho no criado-mudo perto da cama.
_Quem é que está falando? -uma voz masculina retrucou.
_Mas meu amigo, foi você que ligou.
_Aqui é o Carlos. A Melissa está?
_Talvez. Você que é o ex noivo dela?
_Talvez? Como assim talvez? -exaltou-se, mas então caiu em si, e disse quase que num suplico -Ela falou de mim?
_Vagamente.
Eu falei?
_E ai? 
_Ah, meu amigo, você aprontou uma bem feia. Não é qualquer coisa que desmancha um noivado tão longo.
Esse cara é o quê? Psy?
Carlos ficou quieto por um instante.
_Você acha que tem volta? -pude sentir angustia na voz de Carlos.
_Ah, depende...
_Depende? Depende de quê? -exaltou-se novamente. -Quando a gente se conheceu, na boate gay, parecia que tudo daria certo.
_Boate gay?
_Sim. Era o único lugar onde eu poderia ir desacompanhado da minha mulher.
_Então você era casado?
_Eu sou casado.
_Ah, sei. E deixa eu adivinhar: ela disse que só ficariam juntos se você se divorciassem?
_Não. Na verdade ela descobriu a uns dois meses. Saiu de casa com a roupa do corpo.
_Você noivou mesmo estando casado?
_Claro! Você deixaria escapar uma gostosa dessas?Além do mais, olha o meu lado também. Eu viajo sempre. Minha esposa tem as crianças para cuidar. Você queria que eu fizesse o que?E ela disse que só moraria comigo se fosse coisa séria.
_Bom, é uma desculpa a se considerar...
Como assim agora os dois viraram amiguinhos?
_Mas ficar com joguinhos e só entregar as coisas dela agora? Coisa de criança, né, cara? 
_Você está certo. Não vou consegui-la de volta com isso.
_Nem com isso, e nem com outra coisa.
_Como assim? Quem é que está falando? A Mel está namorando... 
Jujuba colocou o telefone no gancho.
Bati a cabeça na parede. Aquilo era o fim. Toda a minha vida para um desconhecido que trabalha com a minha amiga e acabou de ver ela e o namorado saindo pelados daqui.
Fui fazer um chá calmante.
_Não precisa ficar tão tensa. -disse Rodrigo massageando os meus ombros.
_Eles beberam o último gole de vinho -olhei para as taças sujas -A propósito, -virei-me de frente para ele -Não me lembro de mencionar que estava noiva.
Ele deu de ombros.
_Marca de sol de aliança na mão direita. Só pensei que fazia mais tempo.
_Fomos na praia depois de oficializar.
Ele sorriu galante. Estava diante do cara mais charmoso e observador de todos.
Entreguei a xícara para ele.
Ele colocou a dela no balcão, tirou a minha da minha mão, e repetiu a proeza de outrora.
Sonsa, tentei ser provocante:
_Então é um cara que presta atenção nas coisas?
_Pessoas. -olhou no fundo dos meus olhos. Depois começou a beijar o meu pescoço.
_Pessoas? -indaguei.
_Você.
Nossos lábios se entrelaçaram mais uma vez, a diferença é que com mais verrossidade. Seus beijos não se resumiam a lábios. Dava mordidinhas, sugadinhas. Atiçava meus hormônios e dominava meus instintos. Empurrei o pescoço dele contra mim, desgrenhando, finalmente, seu cabelos loiros.
Estava confortável nos braços dele. Aquelas mãos fortes passando por cada centímetro do meu corpo. O movimento do diafragma. Ele me abraçou mais e me levou para o centro da sala. Nem sei onde estávamos, talvez perto do sofá. O fato é que acabamos no chão. 
Não me olhe assim. Não direi mais nada.Bom, mas veio em minha mente um poema. Vi em um desses blogs independentes. Era mais ou menos assim: "Os detalhes só a lua sabe", no nosso caso, o Sol, porque já era quase 6. "Pouco mais saberá você/Só digo que trabalha/e de grande me fez sofrer". Agora não lembro mais do resto. Sei que falava de algo como aproveitar o armamento e terminava com uma frase de efeito "A arte de ser mulher é ver a coisa crescer"
Digamos, eu fui uma mulher artística.

Querido Papai Noel

Parte 2



_Mel! Melissa! Melissa Grassi! Acorda! -Lúcia me chacoalhava.
Levantei a cabeça de cima da mesa. Alguns papeis ficaram molhados. Tive um sonho estranho envolvendo tinta, livros, bateria, cabelos loiros e ...
_Jujuba está aqui... -soltou Lúcia.
_Jujuba?! -pulei da cadeira.
_Ele e o autor estão aqui. Você não ouviu nada do que eu disse, né?
_Claro que eu ouvi. -levantei _ Vou falar com o escritor e já pago o moço.
_Joga uma água no rosto primeiro.

Ao chegar na recepção deparei-me com ambos na maior conversa. O velho até conseguia rir. Nunca pensei que os seus músculos fossem capaz disso.
_Bom dia, senhores? Como estão de véspera de Natal? -empurrava o idoso para minha sala quando me virei para o outro e disse, no meu tom mais profissional _A secretária está com o valor que vocês combinaram. -e virando-me para a moça _Amanda, desconte da editora.
Ela assentiu com a cabeça, e puxando-me de lado disse, como em um segredo:
_Você foi muito esperta.
Não entendi. Nem me interessava. Minha preocupação era tuda concentrada nas sobrancelhas grisalhas a minha frente.
Conversei com ele e logo o dispensei. Ele queria acertar uns detalhes e eu, o cabelo. Peguei minhas coisas e, ao pisar na recepção, Amanda comentou:
_Que linda aquele Tridents, eim?
_Tridents? Jujuba, fofa! -sorri.
_Ah, tanto faz! -deu de ombros - Mas que o bofe é gostoso, ô sê é. Queria conhecer uns desses nas minhas baladas homo.
Amanda era, na verdade, Luis. Travesti assumido há três anos, trabalha conosco a cinco.
_Não foi você que encontrou o seu bofe em uma GLS? -disse ela.
_Infelizmente. -falei cabisbaixa. -Olha, eu preciso ir. Minha hora no salão é daqui a pouco.
_Vai fazer o cabelo? Só para ir na noite de autógrafos?
_Claro, fofa. Você não?
_Ia apenas passar a chapinha. Você devia enrolar.
_Eu vou. Até hoje à noite. Feliz Natal!
_Feliz Natal!

Querido Papai Noel

Parte 1


Natal. Época de festas e confraternizações. Digo as duas enfatizando bem o significado. Festa sem homem não é festa, é confraternização. E o natal, especialmente esta natal, o MEU natal, não seria festa. Nem o Papai Noel vêem me visitar. Homem para mim só no catálogo da Renner.
Falta apenas três dias para o nascimento do menino Jesus e eu ainda estou correndo para cima e para baixo atrás do maldito desenhista. O lançamento do livro está previsto para o dia 24. Entretanto, a capa... se fosse de acordo com o artista que eu acabei de chamar de cretino ela sairia para a próxima copa do mundo.
O meu celular toca.
_Mel? Oi, é a Lúcia, deu certo?
Suspirei.
_Putz. Olha, eu conheço um lugar onde você pode encontrar alguém. Está todo mundo aqui desesperado! -completou Lúcia.
_Me passa o endereço.- anotei. _ é em uma loja de música? Aquela lá do centro? OK. Se eu correr consigo chegar lá. Beijo. Tchau.
Subi no meu carro e dirigi feito uma alienada. No meio do caminho outra ligação. Lúcia novamente.
_Amiga, será que tem como você chegar logo?
_Por quê? Ainda nem cheguei.
_O escritor está aqui. -Aquilo soou como os sinos da morte. Se o autor soubesse a quantas estava o seu livro eu não só perderia o meu emprego, como a editora perderia o resto dos seus clientes. Muitos só poblicavam com a gente porque Ele nos escolhia.
_Vai enrolando o homem.
_Ele já tomou 5 xícaras de café.
_Manda ele tirar um cochilo.
_Ele quer falar com o desenhista.
_Merda!
_E o Carlos? - Eu com tanto problema e ela me vem falar dele?
_Cheguei. Beijo, depois te ligo.

A loja poderia ser classificada como comum. Instrumentos normais de um lado, estranhos de outro. Um balconista todo tatuado. Uma maravilhoso cheiro de maconha. Alguns clientes metaleiros. Você sabe, só o básico.
Cheguei perto do balcão e perguntei:
_Vocês, por acaso, não tem ninguém que desenha? - o atendente olhou para mim. Cabelo repicado, óculos de sol na cabeça, saia, salto alto e bolsa Prada.
_Ô Alemão!!
Apareceu um homem negro. De 1,80 metros, com uma trança no cavanhaque, percing na sobrancelha e alargador na orelha.
_Leva ela para o Jujuba.
E o segui.
Quando me levava em direção a um quartinho sujo, parei. Pensando bem, não precisa mais. Eu mesma posso desenhar. Sou ótima em colocar a carinha no sol.
_Moça, -uma voz grave - a senhora não vem?
_Estou indo. -Meu sol com carinha não ia dar certo mesmo.
_Jujuba, visita.
O tal talento estava agachado, de costas para a gente. Ao virar-se, ele respondeu. O germânico balbuciou algo e foi embora. O talento era alto, braços fortes, pele claro, loiro. Não esses com cara de criança. Cabelos lisos e curtos. Eita Jujuba gostosa.
_ Moça, alou!
Voltei em mim.
_Desculpa. Sou Melissa Grassi. Trabalho na editora Lotos. E ouvi muito a respeito dos seus dotes artísticos.
_Vocal, guitarra ou bateria?
_Pintura. -Sorri amarelo. Ele nada respondeu. E como pedido de piedade, argumentei -Olha, vou ser bem sincera com você. Um dos maiores escritores do país está na minha sala se entupindo de café e ao menos que a cafeína já tenha atingido o seu sistema nervoso, eu preciso de um desenho, ou esboço -a verdade é que eu estava aceitando até um papel em branco, desde que fosse arte, já bastaria. - em 3 minutos.
_Qual é o tema do livro?
_Revolução da espécie: fadas e seus afins.
Ele foi até uma gaveta, remexeu alguns papeis e me entregou o paraíso. Peguei o meu pedaço do seu e anotando um telefone em outra folha disse:
_Esse é o telefone da editora. Liga lá. A gente agenda um horário para você receber.
Liguei para Lúcia, entrei no carro e parti.

As sobrancelhas grisalhas do meu maior cliente remexeram  um pouco antes do veredito final.
_Precisa de mais azul no fundo.
Aliviei.
_Pegue minhas coisas. Vejo vocês na minha noite de autógrafos.
A porta se fechou. Desfaleci no sofá recém-desocupado. Eram 7:30 e eu ainda estava ali.
Dirigi até um apartamento recentemente chamado meu. Abri a porta. O telefone tocava.
_Jú! Jú! Cheguei! - Juliana é a minha melhor amiga desde o colégio. Publicitária, trabalha o maior tempo em casa e quando liguei chorando contando do ocorrido dramático, ela foi a primeira a me oferecer abrigo.
_Jú! Jú!! -gritei mais alto. Ela estava na cozinha, preparando a salada. _Own!!
_Oi! -tirou os fones do ouvido -Não ouvi você chegar.
_Ele ligou muito? -sentei no balcão da cozinha.
__Jú! Jú! Cheguei! - Juliana é a minha melhor amiga desde o colégio. Publicitária, trabalha o maior tempo em casa e quando liguei chorando contando do ocorrido dramático, ela foi a primeira a me oferecer abrigo.
_Jú! Jú!! -gritei mais alto. Ela estava na cozinha, preparando a salada. _Own!!
_Oi! -tirou os fones do ouvido -Não ouvi você chegar.
_Ele ligou muito? -sentei no balcão da cozinha.
_O dia todo. Você devia falar com ele. O síndico veio reclamar.
_Não há mais nada para dizer quando tudo já está dito e feito. -dei de ombros.
_Bom, Mel, você que sabe. -colocou a salada na mesa -Hum... -comentou comendo um alface -Sergio pegou suas coisas hoje.
_Sério? -exaltei-me. _Jú, com todo o respeito,- abracei-a e beijei-a no rosto _ mas eu amo o seu namorado!
Ela sorriu.
_Ele é uma gracinha, não é?
Localizei minhas coisas e, como uma criança em meio dos presentes de natal, sentei no chão e acariciei os meus pertences. Dois meses eram tempo demais usando o mesmo par de sapatos.
_Como Sérgio fez para entrar?
_Foi com uns amigos. Mostraram o mandato judicial. Só assim ele cooperou.
_Carlos é um ridículo mesmo. O que ele queria? Pedir um resgate?
_Onde você o conheceu mesmo?
_Em uma boate GLS. Éramos os dois únicos héteros dali. Eu fui com a Sandra, sabe? Era a primeira vez que ela saiu do armário. Foi quando você conheceu os pais do Rodolfo.
_Lembro. -Sentamos na mesa. Juliana cozinhava muito bem. -Casal agradável. Pena que o filho...
_Esse foi o da neura do cachorro?
_Exato. Quando o vi chutando o pobre animal, terminei. E os meus planos de casar, ter dois filhos e cinco cachorros?!
O celular dela toca.
_Oi, amor. Não, não estou sozinha. A Mel está aqui. Se ela vai sair?Não, acho que não, por que?
"Ótimo. Agora ele queria me expulsar da casa da minha melhor amiga?"
Afoguei meus pensamentos no tomate.
_Então tá. Beijos. Tchau.
_Você quer que eu saia?
"Como assim? Sou praticamente uma sem-teto!"
_Não, lógico que não.
"Bom. Alguém aqui tem sensibilidade perante o meu estado debilitado" Dramática, eu sei. Mas se eu sair daqui vou para onde? Vender coco na Bahia?
_Ele anda estranho esses dias. Só isso. Acho que vai me dar uma dessas notícias cabulosas. Dizer que vai se mudar para a África e nosso namoro será baseado em cartas.
"Hum... África é pior que a Bahia."
_A gente supera. -Deu de ombros. Jú e a sua falta de drama.

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

O beijo negro


Quando as pessoas ouvem o meu nome, elas tremem. Ao sussurrar em seus ouvidos, algo de muito ruim acontece. Beijando-lhes, um novo começo.
Vocês tem medo de mim, entretanto, nem sempre fui assim. No início era apenas uma garota assustada e desiludida da vida.
Nunca fui normal, todavi. Apesar de descender de uma família completamente tradicional, sabia da minha diferença. Nem todos conseguiam prever o futuro ou reviver o passado com tanta precisão quanto eu. Mesmo considerado uma maldição, sentia orgulho deste meu dom.
Eu e Ele.
Detestava o jeito do seu olhar fixado sobre mim. Parecia querer arrancar-me algo, cuja excência não estava disposta a dar. As pupilas, negras. O jeito, charmoso. Misterioso. Seu atrativo: uma aurea escura de medo e assombração.
Era o meu sentimento, porém, não o dos outros. Para eles, Ele era apenas um rapaz comum, com roupas da moda e sorriso intrigante.
Previ nosso encontro. Como em meu sonho, ele veio até mim. Esava no bosque, próximo à minha casa. Ele aproximou-se, e, curvando-se, apresentou-se:
_Sou Sir. Henrique Louise.
Abaixei os olhos em sinal de educação e, instintivamente, arrumei a saia do meu vestido. Não comentei? Estavamos no ano de 1342.
_Susana!
Invento agora. Não recordo-me mais do meu. Há tempos ninguém me chama pelo nome de batismo.
Começamos a conversar. Encontrava-o todos os dias. Falávamos sobre o "nada" e o "tudo" .Debatiamos filosofia e a finalidade do mundo. Certa vez, Ele comentou:
_A vida da-se pelo equilíbrio. O céu e a terra. A água e o fogo. Luz e trevas. Bem e mal.
Discordei. Os males do universo não deveriam ser bons para nada.
Ele argumentou:
_ Minha querida, dentro de nós há dois leões: um branco e outro preto. Eles brigam incansavelmente. Um não existiria sem o outro, assim como eu não existiria sem você. - sorriu.
Desfaleci.
_ O que quer dizer com isso? - meu  coração batia forte.
_ Quero dizer que está na hora de oficializar o laço que temos.
_ Está me pedindo em casamento?
_ Se assim desejar...
_ Sim. Sim, eu desejo. Eu quero. -senti a alegria mais profunda dos meus 17 anos. Abracei-o na expontaneidade. Ele poxou-me pela cintura e, segurando o meu rosto, beijou-me.
_ Encontre-me hoje, mais tarde. Teho uma surpresa para você.
Deixando-me, senti algo em minhas veias. Um calafrio. Algo de ruim. Por instantes eu vi o futuro me esperando. À noite, permaneci em meu quarto. Aflita, desejei nunca ter ,e encantado.
_ Foge de mim, minha querida? -Ele invadiu o cômodo.
_ Vá embora!
_ Não sem você, minha querida.
_ Eu não vou!
_ Você já concordou. - estava calmo.
_ Nunca disse nada! -lágrimas corriam em minha face. Estava em prantos.
_ Aceitou o pedido...
Despedacei. O presságio aconteceria.
Não houve dor. Apenas escuridão. Despertando, já era o que sou hoje.
Só, eu escrevo.
Agora, ouvi algo: "Vitória. Vitória". Lembro-me. Esta é o meu nome. "Minha Querida, tenho um trabalho para você". É Ele. O sangue treme em mim. Escuto seus passos.
Que irôina, penso. Sou Morte. Sou Vitória.
A Morte é a Vitória.
A massaneta gira.