terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Querido Papai Noel

Parte 3


A noite de gala estava indo bem. Meu cabelo ficou com um enrolado bonito, preso uma parte para traz. Pobre Sirley, gastou todo o seu lakê comigo. Mas valeu a pena. Graças a ele, uma armadilha para moscas, os insetos estavam longe da comida. Entretanto, era uma armadilha estonteante, devo adimitir.Meu vestido era longo e preto, daqueles com a saia bem esvoaçante, com a cintura e o busto bem demarcados.
Eram 23:30. Eu já havia recepcionado mais de 1500 convidados. Incrível o que um convite podia fazer com as pessoas. Pelo menos un terço nos dava o prazer da sua presença só por causa dos fotógrafos, apenas para exibir seus trajes importados.
Da outra parte, uns 90% mantinham seus pensamentos, atos e mãos na comida e nos coquetéis. Mais precisamente no último, afinal, que alcoólico, em seu juízo perfeito, e talvez até meio bêbado, renegaria taças cheias de graça?
Um garçom passou e peguei um martini. Ele desapareceu em segundos do meu copo.
_Senhorita Melissa? -aproximou-se uma das assessoras do gamo-mor: "O" escritor. -Ele mandou avisar que vai chegar em 10 minutos. Todos estão aqui?- perguntou seca.
Seis meses com aquele senhor e o trauma nas pessoas próximas era evidente.
_Diga que estamos prontos. -assenti e a moça se foi. Não estávamos, aliás. As pessoas mais importantes não tinham chego, mas vai falar isso para ele? Se você quiser, vá em frente. Eu prefiro garantir o meu braço e o meu emprego.
Analisando o local, observei os 9% restante. Eram compostos pelas pobres almas obrigadas a comparecer só para garantir as migalhas no final do mês. Eram garçons, fotógrafos, jornalistas, trabalhadoras de editora cuja o sapato estava triturando seus pés.
Sentei-me próxima do balcão. Maldita liquidação.
_Oi, Mel, tudo bom?- aproximou-se uma desconhecida. Cabelos longos, uns 40 anos, pulseiras douradas e joelhos a mostra.
_Oi. -abri um sorrizão. Se tem uma coisa que eu aprendi foi: "Se você não entendeu, sorri e diz que sim". - Sim, estou ótima, e você?
_Bem, bem. -deu de ombros. -A festa está ótima. -sentou do meu lado. -Escuta, fiquei sabendo que você contratou o neto do autor para fazer a capa. Parabéns! Perfeita jogada. -fitou-me maliciosamente. Agora lembrava quem era: Concorrente! Quem fez a lista de convidados?
_Imagina. -desviei do seu jogo - Eu vi os desenhos do rapaz. Ele tem talento. Independente de ambos possuírem o mesmo sangue.- Pausei. A ficha caiu. Jujuba fazia parte dos 1%. Os únicos que, em tese, estão aqui sem serem obrigados. Jujuba era parente! Arregalei os olhos.
A víbora, que observava a minha reação, foi embora, dizendo:
_Eu reparei...
Como assim ninguém me avisou dessa pequena coincidência?!
Eu e Lúcia nos encontramos quando uma ia atráz da outra.
_Você sabia? -perguntei.
_Não. Só flertei com ele algumas vezes.
Aliviei. Ninguém podia me acusar de nepotismo ou golpe publicitário ou por simples puxa saquisse! O processo de seleção foi honesto. Não havia prova do contrário.

04h30min eu estava migrando para o lado de fora. De acordo com a minha lista mental eu já podia ir embora. A festa "depois" e a festa "antes" não teriam muita diferença. O autor estava lá. O publico estava lá. O discurso engana platéia estava lá. Exceto a comida e bebida. Elas deveriam acabar lá pelas 5.
"Droga! Devia ter pego outro martini".
Saí. Fora do salão ainda era comemorado o Natal.
Jujuba estava parado do meu lado. Cumprimentei-o. Aquele terno deixava-o ainda mais corpulento. Ficou elegante, mas os fios loiros continuavam os mesmos, chamando minhas mãos para desgrenhá-los.
_Melissa? Alou? Dormiu em pé?
_Estou bem e você? -respondi em sobressalto.
Ele riu.
"Merda! Clichê errado".
_Perguntei por que já vai embora.
Franzi a testa. Comentei que iria embora?
_Já deu a minha hora. -menti. Seria deselegante xingar o avô para o neto. -E você, o que faz aqui fora?
_Está tarde. Preciso ir. -sorriu.
Aquilo era algum tipo de brincadeira?
Um táxi estacionou. O meu ou o dele? Não importou. Ele gentilmente deixou-me passar na frente. O cavalheirismo não morreu, pensei. Porém, logo reparei que dividíamos o mesmo banco traseiro.
_Não se importa, não é mesmo?
_Imagina. -abri o meu famoso sorrizão. e dei o endereço para o motorista. Sem dúvida, o cavalheirismo foi assassinado. Aliás, C-A-P-A-D-O !
_Você se conhecem há muito tempo? -soltou o do volante.
_Não muito. -exclamei - Qual é o seu nome?
_Júnior.
_Sério? O meu também. -afirmou o motorista.
Boa. Quantos mil "juniors'' existem por aqui? Eu também poderia ser um deles se não tivesse um primeiro nome!
_Sim, mas, qual é o seu verdadeiro nome?
Ele olhou debochadamente.
_Acha que "Junior" é a minha identidade secreta?
_Você me entendeu. - fitei-o séria.
_Rodrigo.
_Eu tenho um sobrinho que chama Rodrigo!
Ah, não!
_Moço, o senhor pode parar aqui. -Entreguei o dinheiro e sai.
 Junior-Rodrigo-Jujuba foi atrás de mim.
_Posso acompanhá-la?
_O táxi te deixou aqui também?
_É perigoso andar sozinha a noite.
Pausei. Estava certo, apesar de tudo. Então olhei para ele dos pés a cabeça. Provavelmente seria o primeiro a correr se algo desse errado. Ah, mas e daí? Ele é tão bonito... 
Puxei assunto:
_Essa história de neto soa esquisita.
E era mesmo. Não podia imaginar que alguma mulher quisesse conversar com aquele senhor, imagina ter uma prole dele.
_Parece coisa de outro mundo, né? Ele e alguma mulher. -sorriu. Que sorriso!
Nota mental: agarra esse cara logo!
_Minha avó morreu cedo -continuou ele - Só depois disso vovô começou a publicar o que escrevia. Aí ficou assim... hum....
Insuportável? Arrogante? Egocêntrico?
_... diferente. -completou. -Vovó era romancista também. Meu pai é músico. Eu sou a ovelha negra da família.
Olhei-o interrogativamente. Será que era viciado em craque? Fumo? Sexo? Pedofilia?
_Sou publicitário.A arte é um robby. 
Aliviei. 
Como as famílias eram diferentes. Se você se apresentasse para a minha como tal, eles olhariam para o fundo dos seus olhos com piedade e diriam: "Mas você trabalha no quê?"
_Pronto. Chegamos. É aqui. - parei em frente da porta minúscula do corredor que dava para o andar do apartamento da minha amiga. Fitei-o. Quem eu estava enganando? Daria uma de boa moça na frente do cara mais atraente que me apareceu nos últimos mêses? Claro que os últimos mêses não poderiam ser parâmetro de uma vida amorosa descente. Todavia, já deu para entender a minha situação. 
Quando voltei a realidade para fazer a simpática pergunta cheia de más intenções. " Quer subir e tomar um vinho?". Percebi que nem precisaria insistir muito. Jujuba, com todo aquele charme, enlaçou a minha cintura, segurou no meu pescoço e brincou passando o rosto no meu cabelo. O nariz roçando de leve a minha bochexa. A boca enganando a minha. Apertou-me mais contra ele, e encurralando-me na parede, beijou-me tão profundamente que o tal do Nirvana apoderou-se de mim por um momento.
Respirei.
Abri a porta trêmula. Subi até o terceiro andar cambaleando. Claro que por dentro. Por fora eu era uma atriz holiwoodiana.
Seja abençoada as artes cênicas!
Uma porta era o limite. Planejei meus passos mentalmente: abriria um vinha. Jú tinha um guardado para ocasiões especiais. Nos embebearíamos e ....
_Maria Santíssima! - girei a fechadura e deu de cara com Sergio totalmente ... desprevinido. Engoli em seco. Virei de costas para ele. Então fiquei de frente para o outro. Situação mais constrangedora!
_A Juliana está ai? pergunta mais idiota. Ele não iria traí-la no apartamento dela! Retardada! A menos que fosse comigo, mas isso não vêem ao caso. Desesperada!
_Sérgio, é a Mel que está ai? 
Ele gritou um ''sim'' enquanto se cobria com uma toalha de mesa. Juliana levantou-se e veio até mim. Estava com um sobretudo vermelho recém-colocado. Virou-me a abraçou-se. Depois exclamou com uma surpresa carismática:
_Não sabia que trouxe visita. -sorriu.
_Ah, sim, esse é o...
_Rodrigo, como está? -virou-se para mim -Trabalhamos na mesma empresa.
_Jú, está pronta? -Sérgio apareceu vestido, de malas na mão.
_Sim, sim. Só preciso pegar a minha bolsa. -Pegou, voltou, beijou-me no rosto, e, quando balbuciei monossílabos interrogativos dela disse -África uma ova! -e se foi.
Depois de alguns segundos analisando a situação, desisti. Olhei para o balcão...
_Merda!
_Eles tomaram o vinho, né?
_Eu vou ver se tem outro no quarto. -Tinha comentado que iríamos tomar vinho? Podia ser um chá. Ou ele só veio por causa do open-bar? Credo!
Foi uma jornada épica atravessar a bagunça deixada naquele quarto. Depois de lutas incansáveis não achei um maldito vinho. Nem a rolha sobrou para contar a história. Entretanto, para completar o que eu achava que estava ridiculamente completo, o telefone toca.
_Não, não atende...
Tarde demais.
_Alô? -perguntou o publicitário.
Eu corri para o outro aparelho no criado-mudo perto da cama.
_Quem é que está falando? -uma voz masculina retrucou.
_Mas meu amigo, foi você que ligou.
_Aqui é o Carlos. A Melissa está?
_Talvez. Você que é o ex noivo dela?
_Talvez? Como assim talvez? -exaltou-se, mas então caiu em si, e disse quase que num suplico -Ela falou de mim?
_Vagamente.
Eu falei?
_E ai? 
_Ah, meu amigo, você aprontou uma bem feia. Não é qualquer coisa que desmancha um noivado tão longo.
Esse cara é o quê? Psy?
Carlos ficou quieto por um instante.
_Você acha que tem volta? -pude sentir angustia na voz de Carlos.
_Ah, depende...
_Depende? Depende de quê? -exaltou-se novamente. -Quando a gente se conheceu, na boate gay, parecia que tudo daria certo.
_Boate gay?
_Sim. Era o único lugar onde eu poderia ir desacompanhado da minha mulher.
_Então você era casado?
_Eu sou casado.
_Ah, sei. E deixa eu adivinhar: ela disse que só ficariam juntos se você se divorciassem?
_Não. Na verdade ela descobriu a uns dois meses. Saiu de casa com a roupa do corpo.
_Você noivou mesmo estando casado?
_Claro! Você deixaria escapar uma gostosa dessas?Além do mais, olha o meu lado também. Eu viajo sempre. Minha esposa tem as crianças para cuidar. Você queria que eu fizesse o que?E ela disse que só moraria comigo se fosse coisa séria.
_Bom, é uma desculpa a se considerar...
Como assim agora os dois viraram amiguinhos?
_Mas ficar com joguinhos e só entregar as coisas dela agora? Coisa de criança, né, cara? 
_Você está certo. Não vou consegui-la de volta com isso.
_Nem com isso, e nem com outra coisa.
_Como assim? Quem é que está falando? A Mel está namorando... 
Jujuba colocou o telefone no gancho.
Bati a cabeça na parede. Aquilo era o fim. Toda a minha vida para um desconhecido que trabalha com a minha amiga e acabou de ver ela e o namorado saindo pelados daqui.
Fui fazer um chá calmante.
_Não precisa ficar tão tensa. -disse Rodrigo massageando os meus ombros.
_Eles beberam o último gole de vinho -olhei para as taças sujas -A propósito, -virei-me de frente para ele -Não me lembro de mencionar que estava noiva.
Ele deu de ombros.
_Marca de sol de aliança na mão direita. Só pensei que fazia mais tempo.
_Fomos na praia depois de oficializar.
Ele sorriu galante. Estava diante do cara mais charmoso e observador de todos.
Entreguei a xícara para ele.
Ele colocou a dela no balcão, tirou a minha da minha mão, e repetiu a proeza de outrora.
Sonsa, tentei ser provocante:
_Então é um cara que presta atenção nas coisas?
_Pessoas. -olhou no fundo dos meus olhos. Depois começou a beijar o meu pescoço.
_Pessoas? -indaguei.
_Você.
Nossos lábios se entrelaçaram mais uma vez, a diferença é que com mais verrossidade. Seus beijos não se resumiam a lábios. Dava mordidinhas, sugadinhas. Atiçava meus hormônios e dominava meus instintos. Empurrei o pescoço dele contra mim, desgrenhando, finalmente, seu cabelos loiros.
Estava confortável nos braços dele. Aquelas mãos fortes passando por cada centímetro do meu corpo. O movimento do diafragma. Ele me abraçou mais e me levou para o centro da sala. Nem sei onde estávamos, talvez perto do sofá. O fato é que acabamos no chão. 
Não me olhe assim. Não direi mais nada.Bom, mas veio em minha mente um poema. Vi em um desses blogs independentes. Era mais ou menos assim: "Os detalhes só a lua sabe", no nosso caso, o Sol, porque já era quase 6. "Pouco mais saberá você/Só digo que trabalha/e de grande me fez sofrer". Agora não lembro mais do resto. Sei que falava de algo como aproveitar o armamento e terminava com uma frase de efeito "A arte de ser mulher é ver a coisa crescer"
Digamos, eu fui uma mulher artística.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Campanha: "Diga não ao anonimato! Assine o seu comentário!"