Era uma dessas tarde frescas, sonolentas. Dessas em que as ferias estão acabando e há uma preguiça a mais no ar. Ela estava de roupa de ginastica pronta para dar o bote na geladeira. Psicolagicamente já se conformava, afinal, perderia naquele dia mesmo, todas as calorias extras recem-adquiridas. A campainha tocou, e a moça correu com o podim para o seu quarto.
A empregada atendeu a porta. Os homens que vieram substituir a porta do guarda-roupa do caçula não precisavam mais serem guiados pela casa. Eram dois, o empregado e o dono. O ultimo, entretanto, não estava lá apenas pelo seu simples dever de comerciante, se é que posso dizer sem adicionar desconfianças em uma certa namorada.
Do quarto da jovem, ela podia ouvir, enquanto deliciava-se cheia de culpa, as conversas nada peculiares. Uma das voses, todavia, era sedutora. Apesar de ouvi-la em um enredo de malandragem, resolveu memoriza-la para depois imortali-la em algum dos seus manuscritos. Cansou-se, pegou um livro épico para mergulhar seus pensamentos. Em meio das Cleopatras e Cesares, percebeu formigas a mais em sua escrivanhia. Artropodes inxiridos! Saiu do seu comodo de durmir e levou o prato vasio para a cozinha. Iria matar as malditas afogadas!
Zuleide veio correndo ao seu encontro. Ofegante e animada, falou-lhe como em um segredo:
_Quando você passou, o mais novo disse assim : "Por isso é que eu não caso mesmo, com uma beleza dessa, quem é que guenta?"
Ridiculo. Só porque esse marmanjo era o dono da rede dessas lojas de moveis ele não tinha o direito de trata-la assim. Ela não se importava o quão próximos eram seus pais politicamente. Detestava esses machistas de plantão. Achava que ela era o que? Mercadoria? Reprodutora? E além do mais, estava na casa dela. DELA! Não em exposição como em um açogue. Se não for respeitada onde mora, será aonde?
Nem se atreva a pensar "Na casa dele". Meditou consigo mesma.
_O que eu falo para ele?- perguntou Zuleide.
Mas ele tinha feito alguma pergunta?
_Diga que sou soro positivo, Zu. - e se foi. Ficar em meio dos Augustos seria muito mais util.
Sorte ou azar, as paginas acabaram. Terminaram tão rapito que mal a cama foi moldada pelo o peso do seu corpo em regime. Olhou no relogio. A mãe só iria busca-la daqui meia hora para a academia. Pegou seu companheiro com letras e foi acomoda-lo em uma das pratileiras do escritorio barra biblioteca. Fitou-as mais um pouco, e intereçou-se por contos de bruxaria. Acariciou sua capa vermelha antiga e embalando-o em seus braços ia subir para o segundfo andar quando foi interrompida.
_Ei, -era a mesma voz sedutora - quantos anos você tem?
Ela virou-se, e todo o seu encanto desfaleceu. Será que ele não tinha, mesmo, nada mais importante para fazer? Por que não ia xavecar a vozinha dele?
_13 e você?
Ele fitou-a da cabeça aos pé. Alta, corpo definido, seios fartos, cabelos longos. Tudo o que os seus 17 anos podiam lhe render.
_Você não tem 13. Parece ter 19. -disse como se fosse um crime não querer falar com ele.
_E você parece ter 40. Quantos anos tem?
_27.
Ela levantou a sombrancelha como num gesto: "Viu, otario". E virou-se. Subiria mais rapido a escada se soubesse que seria mais uma vez interrompida.
_Passa o seu celular. -refletia arrogancia em ordenar algo que deve ser pedido com ternura.
_Não tenho. -Era evidente a sua mentira.
_Como com uma casa tão grande você não tem celular? -parecia quase guspir as palavras.
_Prefiro outros tipos de investimentos. -olhou-o fixamente. Estava no auge da sua intelectualidade. Oculos de grau, tênis desgastados, livro nas mãos. Até sentiu um pouco de simpatia por ele quando lhe veio a mente que ele podia dizer "Bolsa de valores?".
_Em quê? Sapatos? -fitou-a com sarcasmo.
_Sossego.
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